O meio social nos ensina a ser hipócritas,
mentirosos, omissos. Tudo isso porque não se pode mais ter defeitos, temos
todos que ser bonecos com sorrisos nos rostos e fichas limpas. A verdade, entendida
aqui como acontecimento pela ideia de Michel Foucault, manda a regra que jamais
pode ser dita, no máximo levemente sugerida no subtexto. Tudo o que importa é
manter a imagem de bom moço e sem nunca revelar o quanto custa emocional e
psicologicamente manter tal imagem.
Nós estamos morrendo sem ter vivido. O materialismo
nos impôs a racionalidade e a negação de tudo o que represente liberdade e
verdade essencial. O ser humano evoluiu para os lados, a humanidade cresceu em
apetrechos e novidades piscantes, mas regrediu no sentir e no viver. Quem olha
no seu olho quando se dirige a você? Quem faz aquilo que realmente causa palpitação
e consome as horas? Quem pode dizer o que pensa? Quem pode pensar?
O buraco é bem mais embaixo e bem maior que nossa
burguesia é capaz de permitir que imaginemos, meus caros! O trabalho vem nos
adoecendo, nos atrofiando o corpo e a alma, suga um terço do dia diretamente e
mais quantas horas de pré-ocupação?! Não há mudança real prevista, senhoras e
senhores. Não há “se” ou “a menos que”. É isso o que temos. O movimento de
mudança é lento, complexo e delicado, porque precisa ser sutil. Não estamos preparados
para mudanças bruscas. Talvez seja essa a resposta à pergunta do título. As
máscaras vão demorar a cair, e eu não tenho paciência! Não tenho diplomacia
suficiente para esperar ou fingir. O que será de mim?
Ser ou não ser faz todo o sentido. O mundo do
trabalho nos pede que sejamos isto ou aquilo, sem jamais nos permitir ser o que
realmente somos. A especialidade está nos enlouquecendo. Ninguém mais sabe e
todos sabem um pouco, e fragmentam o que sabem e, talvez, tudo isso se resuma
em egoísmo.
É a necessidade de alimentar o ego que nos impele a
vestir máscaras e querer máscaras nos rostos dos outros para que não tenhamos
que tirar a nossa. No momento em que escrevo este texto minha mente tenta a
todo custo me boicotar, dizendo que minhas palavras vão chegar aos ouvidos
certos e pode haver retaliação. Bem diz o Chopra que vivemos reproduzindo as
mesmas reações para todas as ações, sem nos darmos conta do instante.
Mas bem, se conviver com as diferenças significa aparar
essas diferenças a fim de pôr todos no mesmo balde, eis outro dos tantos
motivos para que o mundo do trabalho seja repensado, urgentemente, levando em
conta o ser humano (oh, perdão, escapou!).
Perdoem a visão pessimista e as palavras inflamadas aqueles
que acreditam no contrário ou foram levados a isso, mas correrei o risco de ser
eu mesmo aqui.
Caro amigo, concordo com você nas entrelinhas que traz junto às tuas palavras, a distância entre nossa inteireza e a nossa própria vida.
ResponderExcluirTalvez, considerando que o homem carrega consigo as sementes da angústia, do egoísmo, do medo, que se alimentam e se reforçam, desdobrando-se em outros vícios, defeitos e adjetivos frutos de sua sombra. Não é a ideia de Rousseau que o homem nasce bom e a sociedade que o corrompe.
A história nos ensina, seja pelo sistema de livre mercado que nos encontramos ou nos sistemas estatais socialistas e comunistas, que a corrupção, a hipocrisia e a libido dominadii ali se encontraram. Os resultados sempre foram catastróficos. A utopia desenhada nos livros nunca se aplicou.
Concordo que o mundo do trabalho, a dinâmica da vida imposta pela modernidade deva ser melhor analisado, mas... quais seriam as opções?
Não é pessimismo, é concreto. A vida se tornou isso, apenas o que se toca, o que não entra, o que não sorri, o que não sente, o que não sabe cuidar do próprio coração e desconsidera o do outro. São as inúmeras perguntas de falso interesse, do coleguismo sem amizade, e etc...
ResponderExcluirMas eu sei que se não fosse os meus amigos e familia, não suportaria viver. Todos em seus microcosmos encontram alguém ou algo para se apoiar, se não, ninguém estaria aqui.
A questão é que a sociedade não tem quem a ampare.