quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Os brutos – Dani Neves

Eu, toda serelepe e saltitante pela Paulista, percebi um casal que namorava juntinho, sentados naquela praça em frente a um dos grandes shoppings da cidade.
Chegando mais perto, vi que era um casal de meninos. Lindos como só os gays sabem ser. Desencanados como só os apaixonados deveriam ser.
E vou dizer que não era aquele escândalo de casal, não. Infelizmente às vezes nos deparamos com casais homossexuais em um pré-coito no meio da rua e nem se pode falar nada, sob o risco de sermos taxados como preconceituosos. Tolice, um casal hétero se comportando da mesma maneira incomodaria tanto quanto.
Não, não era o caso. Tratava-se de um casal fofo. Conversas ao pé do ouvido, dedos entrelaçados e olhos (brilhantes) nos olhos. Só isso.
Passei tranquila por eles e resolvi atravessar a avenida pra continuar a curtir o sol fraco que a sombra vencia do lado de cá da calçada. Parei em frente à faixa para aguardar o semáforo – deveras demorado na mais importante avenida da cidade. Eu e a galera do Corinthians, porque, né, como tem gente nessa cidade.
Eu que sou meio avoadinha demorei alguns bons minutos para perceber o que estava acontecendo: as pessoas em volta estavam se cutucando, rindo e apontando para o casal. Isso me deixou meio cabreira. Pessoalmente ofendida, até.
Amor é amor, não? Tem gente que ama seus gatos, tem gente que ama os filhos, tem gente que ama reclamar e tem aqueles que amam até as rodas do seu carro! E nós não temos naaaaada a ver com as escolhas de cada um – mesmo porque elas se baseiam no repertório, na estória de vida e morte dos tais seres humanos.
E quem sou eu, ou você, para questionar a pessoa que o transeunte em questão resolveu acolher e confiar tanto a ponto de andar de mãos dadas e trocar confidências em espaço público? Tem que ser muito macho pra fazer isso, hoje em dia.
Homossexualidade é algo mais velho que andar pra frente, e esse tipo de reação é coisa de gente mal educada, tacanha e xucra.
Não precisa concordar, nem discordar. Basta respeitar.
Gente besta.
Dani Neves é autora do Blog: http://no-presente.blogspot.com
Twitter: @NoPresente

4 comentários:

  1. Excelente estreia, Dani! Texto bom é assim, faz a gente enxergar a cena toda. Sensível, gostoso e envolvente. Lembrei até daquela do Ronaldo Bastos, que faria ao texto um bom fundo musical: "... qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amor valerá!"

    Parabéns!

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  2. O interessante é lembrar que essa maioria olhando é o retrato da nossa sociedade. Se existe preconceito, é por que ela nasce dentro de nossas entranhas, famílias, escolas, mídias e afins. Estamos longe dessa sociedade que como eu e você atravessa a rua sem ficar julgando.

    Há muito que nos antecede e nem percebemos o quanto ainda precisamos lutar para mudar.

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  3. É, poeta... a sociedade brasileira é machista por natureza... uma pena né? Imagine quantas repressões vão nos moldando pelo caminho... perdendo nossa identidade, nossa paz, por causa da cabeça quadradinha da maioria. Um acinte e infelizmente, uma verdade.

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  4. Realmente, o texto tem a cena inteira gravada. Parabéns, Dani!

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