sábado, 7 de janeiro de 2012

O Materialismo é um humanismo – Por Felipe Lustosa

Acredito que o materialismo seja um humanismo. Não somente por este libertar-nos da servidão terrena – sob a égide da subversão contra as elites parasitárias –, mas também, por este nos libertar do medo transcendente, torpe e pós-mundano (em apodrecer num calvário de enxofre e salitre, num inferno mefistofélico).
O materialismo é um humanismo, por nos emancipar das crenças em divindades antropomórficas, sempre coléricas! É um humanismo, por nos alforriar de uma eternidade falseada e metafísica, inculcada pelo clero, que engendra o apatismo societário e a alienação.
O materialismo concebe que o ser humano é um animal racional dotado de epistemologia e que utiliza esta última para transformar concretamente sua realidade material e social, erigindo sua concretude tanto cultural, quanto estrutural.
Ele próprio (o homem) é subproduto desta realidade material que concebe enquanto filosofia ontológica. Enquanto ser, é organicamente (e biologicamente) um arranjo molecular, organizado e sistêmico que resulta em matéria viva, num ser concreto, (num organismo), subproduto de bilhões de anos de evolução, um aglomerado de átomos – sem alma –, sob auspício das leis físicas e das ligações químicas – em sua organização de ser vivo.
Todo ser vivo está remetido à matéria e à cosmogônia – à sua origem como ser orgânico e a do meio em que habita –, ao "grande bang", e a ele retornaremos, pois somos a façanha de um evento cósmico, que não somente erigiu nosso sistema solar, como também a matéria viva que o rege, e que (sob a forma de ser cognoscitivo) redigiu esse texto. Em suma, somos feitos de poeira estelar, e ao universo voltaremos sob a forma de átomos.
Este conceito denominado materialismo, sofre correções e se transforma em novas sínteses a cada século e a cada era, foi Sócrates o primeiro a atrelar os pensamentos Eleatas como os de Heráclito e de Parmênides (mudança perpétua e condenação ao Imobilismo, respectivamente) aos pensamentos dos Pluralistas, como os de Leucipo (um atomista) e então associá-los, por conseguinte, à maiêutica socrática aquela que além de humanística, foi uma das primeiras formas ainda que primitivas de dialética parteira das ideias, através do embate entre teses, a fim de desvendar a verdade, a virtude e a ética, que estariam segundo Sócrates, codificadas na alma e imanentes ao mundo das idéias. Tal ontologia ainda estava imbuída de ideias metafísicas, porém foi Sócrates aquele que lançou os dados da dialética e do materialismo modernos.
Aristóteles foi o primeiro a analisar a matéria sob seu aspecto frio, bruto e existencial na ontologia do ser humano (e a corrigir algumas deturpações na maiêutica Socrática, perpetradas pelos geômetras e por Platão).
Porém, Aristóteles – com todo o seu mérito –, atrelou o saber à virtude transcendente do “Ato Puro” (Deus), atrelou a razão ao espanto (pathos), o cognoscitivo do ser humano à ideia de “forma” ou, a “Alma-racional”, imanente à “substância” ou o homem (o ser concreto).
A matéria desprovida de forma (alma) e de “essência” (objetivo), para Aristóteles, era a matéria bruta, prima, aquela que servia apenas ao trabalho humano, a essência por sua vez, seria objetivação do ser, enquanto a forma, a alma (que poderia ser Racional, Nutritiva e Sensorial) do ser concreto, que só poderia existir “imanente as almas supracitadas”, em suma, a matéria para se tornar substância, para Aristóteles, necessitava da forma (alma), da essência (Objetivação), para só então existir.
Aristóteles aperfeiçoou o conceito de matéria advindo dos pré-socraticos e lançado por terra, por Sócrates e por Platão, assim como Marx no século XIX aperfeiçoou magnificamente o conceito de materialismo (advindo de Feuerbach), que aprioristicamente, sem a intervenção deste primeiro (Marx), se encontrava deslocado da realidade societária.

* Felipe Lustosa é professor de História e de Filosofia. Acredita em uma sociedade mais justa e igualitária sem a subserviência aos setores monopolistas do capital.

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